MULHER

Capítulo 3 – Antônia

Fui para a rede chorar um pouco. Eu tirei a rede do pai e da mãe e troquei por mais duas galinhas há três semanas. Sei que daqui a pouco vou ter que matar as galinhas para a nossa alimentação. Não sei fazer esses animais se multiplicarem, tampouco fazer um plantio de mandioca ou de milho se transformar em uma fonte de renda para a gente. Sou uma menina ainda, não sou adulta!
Muitas responsabilidades foram colocadas em minhas costas antes mesmo de eu ser mulher! Será que ninguém pode me ajudar? Não é necessário ajuda financeira, apenas dar instruções de como pode ser feito…
Há um homem na cidade que é muito inteligente. Sempre que vou trocar leite por feijão, vou até a venda dele. É o único que aceita esse tipo de troca. Outro dia eu pedi a orientação dele. Ele me olhou de cima a baixo e disse umas coisas que não entendi. Só sei que não gostei do seu olhar, achei muito esquisito. Meu pai nunca me olhou daquela forma…
Os anos foram se passando e nossa vida sempre na mesma, ou melhor, piorando cada vez mais.
Eu não poderia deixar a minha irmã passar fome, mas naquele lugar a gente iria morrer. Resolvi, então, fazer uma tentativa. Era a única saída, não tinha outro jeito. Fui até o nosso vizinho, aquele que ajudou a tirar meu pai morto da árvore. Pedi que ficasse cuidando da Márcia, pois eu iria para outro estado tentar a vida. Do jeito que estávamos, não teríamos nenhuma chance de sobrevivência. Essa era a única luz que eu via no fim do túnel. Prometi que enviaria dinheiro para ajudar nas despesas dela. Eu me sentia mais segura deixando-a com uma família. Arrumamos suas coisinhas, tinha pouquíssima roupa e apenas um par de sandálias. Coloquei em duas sacolas e levei-a para casa da Zefa. Meu coração apertou tanto que não contive as lágrimas. Sofri muito ao deixá-la, mas tinha que ser assim.
Pedi ao Seu Dito para vender a casa, mas não tinha documentação nenhuma. Lá, naquele fim de mundo, a gente conversava e fazia negócios à base de palavras. Nossa palavra tinha muito poder e confiança. O dinheiro que ele conseguia era para suprir as despesas da Márcia. Minhas coisas deram apenas em uma sacola. Prendi meu cabelo com um elástico e fui para a estrada, a fim de pegar uma carona. Levou mais ou menos duas horas para passar um caminhão. Fiquei esperando naquele sol ardente que comia a nossa pele. Enfim, a carona chegou.
Um senhor parou e entrei em seu caminhão vermelho, enferrujado, todo coberto de terra e tão quente que mal dava para respirar. Ele era muito simpático, lembrava meu pai… Tenho saudades de meus pais. Eles fazem muita falta. Cheguei à cidade grande. Era grande mesmo.
Pessoas lindas circulando pelas ruas. Havia carros por todo lado. Fiquei um tanto assustada. Não tinha muito dinheiro, apenas duzentos reais para arrumar um lugar para passar a noite e conseguir um emprego. O senhor do caminhão me disse que conhecia um albergue que aceitava meninas, era barato e eu poderia passar a noite lá.
Ele me deixou na porta. Era um lugar feio, todo sujo. Pessoas estranhas passavam por ali, diferentemente do centro da cidade. Tive sorte, havia um quarto vago. A mulher da recepção primeiro quis o pagamento da diária, para depois me deixar entrar. Coloquei a minha sacola dentro de um guarda-roupa de duas portas todo descascado.
A cama era pequena, o colchão duro, porém, não fazia diferença para quem dormia em rede. As paredes eram beges, tinha bolor, toda descascada, não valia o preço que pediam na diária, mas era tudo o que eu tinha. Viajei o dia todo e quando cheguei já era noite; queria descansar um pouco. Naquela noite, antes de desmaiar de tanto sono, chorei… estava me sentindo sozinha e com medo daquela cidade imensa.

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Capítulo 2 – Antônia


Em uma manhã, eu fui pegar algumas mandiocas para cozinhar e comer e vi alguma coisa pendurada na árvore. Minha irmã estava dormindo. Eu cheguei perto e quase desmaiei. Minhas pernas estremeceram, meu coração disparou e as lágrimas caíram sem parar dos meus olhos. Meu choro foi tanto que cheguei a soluçar. Vi meu pai com uma corda no pescoço. Seus braços estavam soltos, a língua para fora, os olhos muito abertos olhando para mim e seu rosto muito roxo. Ele se enforcou com uma corda que tínhamos para amarrar os barris. Nunca mais vou me esquecer dessa cena. Não queria que minha irmã visse, mas não consegui evitar. Ela acordou e veio atrás de mim. Quando percebi, a pequena Marcinha estava ajoelhada no chão de terra vermelha com as mãos na boca. Eu me lembro como se fosse hoje, pegamos o carro de boi e fomos até nosso vizinho. Contamos o acontecido, e ele, juntamente com seus dois filhos, foram até a árvore.
Tiraram o pai de lá e o enterraram ao lado da nossa mãe. Fizeram mais uma cruz. Agora, ela não estava torta.
Meu pai não conseguiu ser forte, ele se matou. Ouvi dizer que quem se mata vai para o inferno. Então, ele deve estar lá.
Enfim, ficamos sozinhas, eu e minha irmã em um sertão sem fim. Aprendemos a pegar água do riacho… Claro que trazíamos muito menos água do que meu pai, a gente quase não tinha forças… Nós paramos de brincar no galinheiro com as galinhas e nem fazíamos mais bonecas de espigas de milho. O nosso tempo era remido.
Eu tinha que sustentar a casa agora. Eu, simplesmente eu, uma menina com 15 anos de idade, tinha que sustentar a irmã com 13. Por isso, virei a sua mãe, a sua protetora, a sua vida. Ela se baseava em mim para tudo. Eu não poderia jamais deixá-la de lado. Tive uma filha sem ficar grávida.
O tempo foi passando e a vida ficou muito dura para nós. Acordávamos ainda de noite para buscar leite na casa vizinha. O pai de família chamado Seu Dito – era Benedito, mas todo mundo o conhecia por Dito – era casado com a Zefa – acho que o nome todo era Josefa, não sei bem, eu não tinha tempo nem para conversar mais e saber da vida das pessoas.
Ele dava todo dia um litro de leite tirado diretamente da vaca para nós, mas tinha uma condição: a gente tinha que ir lá buscar. Ele nem se importava se éramos pequenas; se a gente não fosse lá, não tinha leite. Não sei se minha mãe agiria assim com um vizinho que não tem pai e mãe…
Nós não tínhamos geladeira, então o leite teria que ser consumido no dia, senão talhava.
Eu não tinha dinheiro para comprar açúcar, por isso o leite era aferventado em uma vasilha de alumínio e a gente bebia sem nada, apenas o leite e a espuma. Com o tempo, a gente se acostuma e nem sente a falta do doce no leite.
A mandioca era plantada na frente de casa. Eu aprendi com meu pai a puxar a raiz e também cortar os talos para colocá-los novamente na terra. Tenho aproveitado o plantio que meu falecido pai deixou.
As galinhas eu também aproveito. Vou todos os dias ver se há ovos para comer. Uso lenha no fogão para fazer a comida. Tudo é assado, porque quase não se tem água, e quando tem é para beber. O calor aqui é insuportável, se a gente não fizer tudo antes das 10 horas da manhã, o sol queima o coco da nossa cabeça.
Para mim, tudo está muito difícil! Não estou dando conta de fazer tudo o que devo fazer. Tenho muito medo de ficar sem comida para a minha irmã. Estamos com seis galinhas e um galo, nove pés de mandioca e sete de milho. Tenho que alimentar o boi, que sempre nos leva para a cidade para comprar feijão. Eu troco, às vezes, o leite por meio quilo de feijão. Como não tenho dinheiro, tento trocar por algo.

A minha mãe lavava a roupa no riacho e a trazia em um balde que colocava em cima da cabeça. Ela tinha tanta agilidade, que podia até correr e não deixava a roupa cair. Eu bem que tentei fazer isso, mas é muito pesado, então, levo a roupa de pouco em pouco até o riacho para lavar. Muitas vezes prefiro ficar com as roupas sujas…

- Antônia, o que vai acontecer com a gente?
- Eu não sei, mas não vou deixar você passar fome, isso pode ter certeza!

Continua na Proxima Segunda!
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Capítulo 1 – Antônia



Você tem mãe? Você conhece a cadeia? Sabe o que acontece lá? Vou contar minha história. Realmente a injustiça acontece e quando percebemos, estamos sem ninguém, simplesmente sozinhas nesse mundo. O que fazer? Recorrer a quem?

( História baseada em relatos de jovens que estiveram em uma cadeia feminina)

Imagine ter apenas 10 anos de idade e ver sua mãe caída no chão, morta. Foi o que aconteceu comigo.
A minha mãe teve uma parada cardíaca fulminante e morreu junto com as galinhas. Ela estava dando comida para elas no quintal e, de repente, caiu… Morreu…. Não deu tempo de socorrer. Nem que desse tempo, onde nós moramos não tem hospital. Eu fiquei perto do corpo dela esperando meu pai. Quando ele chegou, o corpo dela já estava gelado e seus lábios roxos. Fiquei o tempo todo sentada no chão e coloquei a cabecinha dela em meu colo. Minha irmã estava com meu pai. Eles estavam pegando água no riacho, que fica a cerca de 10 km de casa.
Meu pai chorou… Carregou minha mãe até a nossa casa e a colocou na cama. Seu corpo, imóvel, ficou lá por alguns minutos. Ele fez um buraco no fundo de casa e lá enterrou nossa mãe. Fez também uma cruz. A madeira vertical ficou torta, nem parecia uma cruz. Minha mãe, agora, estava embaixo da terra, no fundo de casa, perto das galinhas.
Eu me vi sozinha para cuidar da minha irmã e do pai que acreditava, não iria aguentar, ele era muito fraco nos seus sentimentos…
Eu me chamo Antônia, minha irmã Márcia, meu pai Pedro, e minha mãe, Cida.
-*-

Eu gostava muito de brincar com minha irmã. Ela é dois anos mais nova que eu. Nossa casa muito simples. Feita de pau-a-pique. Meu pai foi quem fez com um barro que se aplica num enramado de bambu.
A gente se divertia enquanto meu pai trabalhava.
Nós morávamos em outro lugar, mas estávamos ficando sem água, porque havia seca e até os animais vizinhos estavam morrendo. Agora, onde estamos, tem um riacho bem legal e meus pais acharam melhor ficarmos aqui para sobrevivermos. Para pegarmos água, vamos em uma carroça, e o boi vai puxando. Às vezes dói o corpo de tanto que chacoalha. Eles vão duas vezes na semana pegar água, e a gente armazena em barris. Dá para tomar banho de caneca, fazer a comida e alimentar as galinhas também.
Há algumas árvores em volta da casa. Tem jaca, pitomba, goiaba e graviola. Minha mãe fazia sucos para nós. Ela também fazia macaxeira assada, uma verdadeira delícia com suco de pitomba!
Minha irmãzinha sempre ficava comigo. A gente não se separava por nada. Um dia eu quis brincar com as espigas de milho fazendo bonecas. Ela ficou encantada, e a partir de então, brincávamos de casinha todos os dias.
Depois que a minha mãe morreu, a gente não brincou mais.
Eu já estava com dez anos, e ela com oito. Eu cuidava da Marcia, sempre cuidei. Quando ela acordava à noite, com dores de barriga, eu saía pelo quintal à procura de erva cidreira para fazer um chazinho para ela. O tempo foi passando e ela começou a me chamar de mãe. Eu achava meio estranho, mas não consegui tirar isso dela.
Aprendi a fazer comida, chás milagrosos, compotas, organizar a casa, limpar o chão de terra batida, fazer os sucos com as frutas do quintal e, o principal, cuidar do meu pai. Ele entrou em depressão profunda e a única coisa que fazia era buscar água com o boi para nós. Isso porque eu não aguentava com o peso dos barris.

Sempre cuidei de tudo. A minha mãe me ensinou muita coisa, mas eu sempre precisei dela. Quando fiquei mocinha, pensei que tivesse me machucado. Eu não sabia para quem falar. Tinha vergonha de falar sobre isso com o meu pai, porque eu não sabia o que era. Além disso, a nossa vizinha ficava a cerca de 20 km da minha casa. Depois de três meses eu descobri que era normal, porque todo mês acontecia.
Em parte, para mim, foi bom, porque quando aconteceu com minha irmã, eu já pude tirar de letra e ensiná-la. Meu pai nem ficou sabendo. Aliás, ele nem conversava com a gente. Um dia eu tive que dar macaxeira na boca dele. Nem comer ele estava comendo. A depressão estava matando aquele homem dia a dia.
Havia uma árvore a uns 40 metros de casa. A gente costumava subir nela para brincar, mas agora a gente não quer nem passar perto.

Continua na Proxima Semana
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Olá meninas vamos começar hj (15/07/2012) o desafio para as solteiras da Dª Nanda Bezerra, São 40 lições vamos aprender um pouco mais.
Obs: vai ser colocado em ordem decrescente e uma vez por semana.

Amor de Gambá!

Desafio 1 para as solteiras!
Sabe aquele desenho animado do gambá Pepe, que é apaixonado por uma gatinha preta com listrinhas como a dele?
Sempre que ele a vê seus olhinhos ficam esbugalhados e em formato de coração. Ele não a entende, pois sempre foge dele por causa do mau cheiro, mas ainda assim ele é apaixonado…
Esse é um amor impossível, pois ela é gata e ele gambá! Nunca vai dar certo!
Existe essa incompatibilidade e apesar de parecerem iguais, não são!
E isso não se pode negar…
Da mesma forma, aconteceu com ela… Bastou apenas um olhar e pronto, está apaixonada…
Nem o conhece o suficiente, mas já se diz apaixonada… Está amando…
Lá está o amor de gambá. Um amor baseado nas emoções que só irá trazer decepções.
Existem diversas incompatibilidades, mas como o Gambá Pepe, ela não quer ver…
Sempre pensa que com amor e depois do casamento vai conseguir superar tudo!
Muito enganada você está amiga! O casamento vai apenas agravar a sua situação.
Não são poucas as jovens que tem me escrito, arrependidas por terem vivido um amor de gambá e agora vivem uma vida fedorenta (me perdoem a expressão) no casamento!
As incompatibilidades podem ser diversas, mas vou citar apenas três…
  • Ele é muito mais novo que você. Sei que esse é um assunto polêmico e que muitos são contra. Sei também que não é uma regra e tiveram casamentos que deram certo, mas vejam bem, foi uma excessão, a grande maioria tem problemas, então a escolha é sua… Aqui, apenas te aconselho.
  • Você tem mais estudo que ele. Também outra polêmica. Mas no casamento isso é algo que é muito difícil, principalmente para o homem.
  • Os dois tem visões diferentes para o futuro. Um quer ter filhos e o outro não, está aí um bom exemplo. Um tem o desejo de servir no altar e o outro não, outro bom exemplo!
Tarefa 1
“Se você tem um namorado e está pensando em casamento, preste bastante atenção nas incompatibilidades, pois estas no futuro podem te trazer muito sofrimento. Se você ainda não está namorando é bom saber disso para quando escolher a pessoa que vai namorar. Evitem “o amor de gambá”, usem sua fé inteligente!”
Vejam bem, é melhor sofrer agora com um namoro rompido, do que sofrer no futuro com um divórcio.


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vou deixar por mais um tempo esta historia tudo bem??

Olá meninas, á partir de hoje será colocado toda semana um post de uma história que está no blog da           Dª Cristiane Cardoso. Espero que seja fonte de edificação e aprendizado para todos.

(comentários, sugestões, críticas são bem vindos).


desculpem o trastorno. segue história 

Marina – Capítulo 14

Mais alguns segundos e consegui dar a primeira respiração profunda. O oxigênio chegou aos meus pulmões…
Abri os olhos e as trevas já não estavam lá. Eu ainda sentia o meu cheiro de podre, mas o peso dos meus ombros sumiram. Eu estava leve, ainda fraca, mas leve… os demônios foram embora. Eu nem acreditei, mas eles que estavam me atormentando esses meses todos, foram embora.
Ali eu soube o quanto é imensa a misericórdia do DEUS ALTÍSSIMO! Ele me aceitou novamente, me aceitou como sua filha.
Precisei ver os demônios e o reino do inferno para ter meus olhos abertos e saber como age as trevas em  nosso coração e nos levar ao lago de fogo e enxofre.
Minha mãe entrou novamente no quarto para ver se eu ainda estava viva. Sorri para ela. Minha mãe chorou…
Fui salva naquele momento pela misericórdia do meu Deus. Sim agora Ele é o meu Deus. Deixou de ser meu inimigo como eu pensava…
Não acredito que teria vivido se não tivesse perdoado e desejado ardentemente minha salvação. O alívio que a gente sente quando nossa alma está limpa e pura é imediato.
Bá fez um mingau e me deu na boca. Minha gengiva já não sangrava mais. Ainda tinha feridas na boca, por isso a comida era de pouco em pouco. Ainda esta muito debilitada, muito fraca, mas já não sentia enjoo. Necessitava de ajuda para andar. Meu pai me colocou na cadeira de rodas e me levou no hospital no dia seguinte.
Dr. Tadeu se impressionou de me ver viva, um dia a mais do que ele havia dito. Quase que ele acertou ( risos).
Pedi outros exames, ele perguntou para quê?
Eu disse que estava curada. Ele riu.
Como o convenio pagava tudo, era vantagem para o hospital realizar os exames.
Dois dias depois o telefone tocou. Era a enfermeira do hospital, queria falar comigo.
Eles não estavam entendo como poderia ter dado negativo o exame em um paciente em estado terminal, afinal o médico havia pedido para meu pai comprar o caixão. Novos exames foram realizados e novamente o resultado foi negativo.
Dr. Tadeu me chamou no consultório um mês depois do milagre. Eu consegui ir andando, muito devagar mas sem a ajuda da cadeira de rodas. Ele me perguntou o que aconteceu e eu respondi:
- Consegui perdoar para ser perdoada…
- Então você realmente usou sua fé, porque era humanamente impossível a sua cura. Espero que nunca mais deixe o seu Deus, pois Ele é real.
- O senhor deveria conhece-Lo .( risos )
Deixei um livro em sua mesa, quem sabe ele lê 
Retornei para minha igreja. Voltei para Deus e Ele se voltou para mim.
Algum tempo se passou e meu cabelo começou a crescer. A cor dele é linda… eu nem me lembrava mais. Tive que tratar meus dentes, porque apodreceram todos. As feridas em meu corpo se fecharam. Fiquei com algumas marcas, mas isso não importa. Até gostei, assim jamais vou esquecer o que aconteceu comigo. Consegui engordar sete quilos, estou pesando agora 43 quilos. Estou indo bem para uma garota de 1,78. Recuperando dia a dia, porém agora na fé da minha salvação.
Lembra do Felipe? Ele se casou com a menina e tiveram gêmeos. Logo após o nascimento das crianças, eles se separaram, pois Felipe já se cansou dela e está noivo de outra.
E é assim, quando a gente ouve o coração é só sofrimento. O que parece ouro, com algum tempo vira ferrugem e de nada serve mais.
Um dia eu perdi o brilho por causa do coração, mas agora já estou esperta com ele. ( risos )
Essa que vocês estão vendo, sou eu, antes de conhecer o Felipe…
Espero que essa história ajude a compreenderem onde a mágoa leva o ser humano e não cometam o mesmo erro que eu um dia cometi…
Atenciosamente Marina.
FIM

PRÓXIMA SEMANA
ANTÔNIA…

Você tem mãe? Conhece a cadeia? Sabe o que acontece lá dentro?
Imagine ter apenas 10 anos de idade e já ter a responsabilidade de um adulto!  Foi o que aconteceu comigo…
Continua próxima semana 
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Capítulo 13 – Marina

7
Mas ainda havia ódio dentro de mim, não sei porquê. Eu ainda estava com a angustia dentro do meu peito e a revolta estava aflorada em meu ser.
Ali começou a grande batalha.
Os demônios desejavam ardentemente minha alma e eu desejava ardentemente a salvação!
Como poderia tirar o ódio dentro de mim? Havia poucos segundos para eu decidir como iria viver a eternidade. Ou eu ouvia a voz do coração ou a voz da razão. A gente quer uma coisa mas o coração grita por outra!
Havia trevas ao meu redor, eu as via. Vi os demônios…sim havia tantos demônios ao meu redor que era impossível conta-los. Sentia o cheiro de enxofre.
Vi um deles me olhar fixamente… eu ainda estava com muito medo. Meu coração disparou. Ele se aproximou de mim e disse:
- Você é minha, não vou te perder por nada! Sua alma é valiosa e te espero faz tempo…
A voz dele era tão forte que penetrava dentro dos meus poros. Já dava para sentir o calor do inferno. Minha luta estava sendo imensa. Minha salvação estava em minhas mãos.
Tentei gritar, mas minha voz não saía. Parecia um pesadelo, mas na verdade era real e muito real…
- Lutei por você, apanhei no inferno por não ter conseguido a sua alma antes, mas agora é o seu fim. O HOMEM DE BRANCO perdeu, você é minha…
Falei novamente para Deus que perdoava. Percebi que era o meu último suspiro, não tinha mais tempo, mas o ódio ainda estava dentro de mim.
Agora eu estava com muita raiva de mim mesma, por não conseguir me salvar. Tive tanto tempo em vida e agora que estou tão perto do inferno não consigo esmagar meu coração.
“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? ”  Jeremias 17:9
Se eu pudesse falar para todo mundo não dar ouvidos ao coração… ele engana a gente e depois nos leva para o inferno.
Se eu pudesse gritar para todos dizendo o quanto eu me arrependo de não ter ouvido o Espírito Santo…
Minha alma dóia…
Já não sinto mais meu corpo, pois as dores são insuportáveis.
Não sei se o mau cheiro é meu ou do enxofre do inferno…
- Você vai ser o meu troféu. Todos os demônios lutam por esse troféu… uma alma que serviu o HOMEM DE BRANCO. Vocês tem um lugar especial no inferno… nós deixamos vocês bem conscientes. Fazemos questão que lembrem a cada segundo tudo que fizerem de mau e de bom aqui na terra. A cada segundo vocês vão se consumindo e isso é por toda a eternidade…
Não sei como, mas arrumei forças para falar o nome daquele que eu tinha mágoa e desejava a desgraça na vida dele.
Sim, eu falei o nome e disse que o perdoava. Disse para Deus me dar mais uma chance que não iria desperdiçar por nada…
- DEUS! MEU PAI! SOCORRO! Me dá mais uma chance… não vou deixar de Te servir pelo resto da minha vida. Eu te pertenço Senhor meu e te amo mais do que tudo nesse mundo. Me perdoa… me perdoa… Pai…

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Marina – Capítulo 12

Costuma-se colocar flores para o defunto não cheirar tão mal, mas eu estava fedendo tanto que acho que nem o perfume daria resultado.
Cheguei no hospital e o doutor Tadeu estava me esperando. Entrei na sala dele levada por meu pai na cadeira de rodas.
Ele quis fazer brincadeiras, mas eu sabia que estava morrendo.
- E aí menina bonita como está?
Eu só não sabia onde estava a menina bonita… careca, pele enrugada, dentes podres, gengiva sangrando, fedendo defunto… só podia ser brincadeira dele.
Ele abriu os exames e tudo estava na mesma. Chamou minha mãe e meu pai em outra sala, demoraram uns minutos e voltou apenas minha mãe com o médico. Perguntei do meu pai, mas ele ficou lá fora, foi no banheiro lavar o rosto. Ele deveria estar chorando.
Fiz que não era comigo e perguntei ao doutor o porquê minhas veias estavam doendo tanto. Ele explicou mas eu nem prestei atenção em nada, queria é ficar curada.
Minha mãe entendeu e quando chegou em casa colocou em prática o que ele ensinou.
Esquentou água e fez um chá de camomila. Com um pano limpo, mergulhou no preparo e colocou sob minhas veias escuras e duras. Doía tudo. Eu sentia o câncer comendo meu corpo, cada pedaço. Eu sabia onde ele estava, onde era apodrecido por essa maldita doença. Naquele momento meu intestino, meu fígado, rins, esôfago, baço estavam sendo comidos pela doença… eu sentia cada parte do meu corpo morrendo…
Numa noite, eu pensei que era meu pai entrando no meu quarto, um vulto escuro. Eu não estava enxergando mais quase nada. Meus olhos estavam embaçados. Alguém  falou que viria buscar minha alma naquela noite… eu sei que não era Deus nem um dos seus anjos, porque a voz era horrorosa e o cheiro de enxofre era grande. O temor sobreveio sobre mim de tal forma que consegui dar um grito, ainda não sei como fiz isso, acho que foi o desesperado.
Minha mãe entrou correndo no quarto, acendeu a luz e veio até minha cama. Segurou minha cabeça e ficou me olhando com os olhos arregalados. Eu não disse nada. Ela me falou que Jesus ainda me amava mas a mágoa tomou conta do meu ser e isso fez o câncer em mim. Ela me disse que o médico deu apenas uma semana de vida, e o prazo estava se esgotando. Se eu não perdoasse quem me fez ter mágoa,  iria para o inferno.
“Pelo que já se escureceram de mágoa os meus olhos, e já todos os meus membros são como a sombra.” Jó 17:7
O problema é que eu não conseguia perdoar! Eu não conseguia ! Quando  me lembrava daquelas palavras que não ia dar certo  ficava com mais ódio ainda. Sentia uma raiva muito grande daquela situação, eu estava morrendo, literalmente morrendo. Tinha apenas alguns minutos de vida e não conseguia perdoar!!
Quanto desespero, quero dar o perdão mas não consigo! Sinto minha alma indo para o abismo! Alguém pelo amor de Deus me ajuda! Não tenho forças para falar nem para orar!
Minha mãe percebeu a minha agonia,  sabia que eu estava morrendo. Minha boca começou a sangrar novamente, o cheiro de podre estava insuportável que nem mesmo eu conseguia me aguentar. Meus olhos estavam se fechando… estava esgotando minha vida aqui na terra…
Minha mãe desesperada disse para eu falar o nome da pessoa na qual tinha rancor. Eu não conseguia falar o seu nome…
Ela largou a minha cabeça e se levantou da cama. Me disse:
- Se o Felipe realmente te amasse, estaria aqui no meu lugar e não com outra pessoa. Se você tivesse se casado com ele, hoje também estaria com outra mulher. O problema é que você não entende que a gente quer o teu bem e te aconselha para que não caia no erro. Mas a sua cabeça é muito fraca para compreender o amor de Deus. Quer morrer? Faça conforme a sua fé! Agora você viu realmente que ele não era para você e ainda assim tem mágoa. Mágoa de quem? Da verdade?
Minha mãe saiu e me deixou no quarto sozinha…
Naquele momento parece que recuperei a consciência. Comecei a pensar. Por alguns segundos consegui pensar. Eu estava sem ar, não tinha mais respiração. No meu último folego disse em voz sussurrada:
- Deus, eu perdoo meu pastor e perdoo todos aqueles que eu pensava querer o meu mal.
As palavras saíram do fundo da minha alma…
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Marina – Capítulo 11


11


Cada dia de quimioterapia, um sofrimento. No hospital que eu realizava a quimio, tinha muita gente como eu. Uns estavam bem, outros estavam morrendo. Vi muita gente morrer em minha frente ou mesmo fiquei sabendo que morreu por algum enfermeiro. Crianças sofrendo, pais chorando, a dor por todo lado. O diabo reina nesses lugares e eu que um dia fui usada por Deus, expulsava-os das pessoas, não consigo expulsa-lo da minha vida.
Um dia senti muita falta de ar. Não consegui nem gritar, tinha uma colher perto de mim eu a joguei com o restante de força dos meus braços em direção ao corredor. A Bá veio correndo e ficou desesperada. Eu já estava ficando roxa. Ficar sem ar é algo horrível. A agonia de querer respirar e não conseguir. Puxar o ar e ele não vir. Ela gritou e meu pai veio correndo. Me pegou no colo e me segurou em seus braços. Minha mãe pegou as chaves do carro, a Bá abriu o portão e quando vi já estava na cama do hospital recebendo oxigênio.
Vi meu pai saindo pela porta chorando. Minha mãe segurando o aparelho de oxigênio em meu rosto. Seu olhar era de toda tristeza do mundo. Eu sabia que se ela pudesse estaria no meu lugar para me dar a vida de novo. Me sentia bem quando ela estava ao meu lado porque os demônios sumiam, mas quando ela não estava, eles ficavam ao meu redor só esperando a minha morte, como fizeram com a menina do hospital.
Meu médico entrou e pediu novos exames. Foi tudo rápido. Eu não fui  para casa, fiquei para receber sangue…
Ouvi a Bá ligando para alguém pedindo que arrumasse pessoas para a doação. É que quando se usa o sangue do hospital deve-se repor, assim nunca vai faltar.
Sei que o primo dela e a sobrinha tem o mesmo tipo de sangue que o meu. Minha mãe e minhas duas tias também. Eles vieram no dia seguinte.
Fiquei mais dois dias no hospital. Sonhei que estava morrendo e que vultos escuros vieram me buscar. Novamente o desespero tomou conta da minha alma. Eu tinha vontade de chorar, mas não tinha forças, as lágrimas apenas caíam sem parar sobre meu rosto, molhando todo o travesseiro. Estava sem forças para me levantar, para falar, sem forças para viver. Sabia que a morte estava chegando e que eu iria para o inferno. Quanto desespero! Quanta dor! A agonia toma conta do nosso ser de uma forma que se eu pudesse me mataria ali naquela hora. Mas se eu me matar vou para o inferno mais rápido. Se de repente alguém errasse o remédio, então eu não estaria me matando, mas mesmo assim minha alma não estaria salva.
- Meu Deus o que eu faço?
Três dias internada. Recebi alta. Fui para casa. Bá fez sopa de letrinhas. Ela brincava comigo dando o macarrão e falando as letrinhas que estavam na pequena colher. Tinha mais água do que macarrão. De repente senti um gosto de sangue na boca. Minha gengiva começou a sangrar… eu estava apodrecendo…
O cheiro do meu quarto, nem com todo desinfetante do mundo tirava o fedor de morte. Um cheiro de podre… era eu…
Minha mãe me limpava com um pano o tempo todo. Passava creme hidratante na pele por causa do ressecamento. Mesmo assim eu fedia.
Vocês devem se perguntar do Felipe. Ele me deixou na primeira semana da quimioterapia. Disse que não iria suportar me ver sofrer. Um covarde que de fato não me amava. Foi usado só para me tirar da presença de Deus. Ele está namorando com outra menina. A casa onde iríamos morar agora é dela. Os móveis, ele vendeu e me deu uma parte do valor. Minha mãe compra remédios com esse dinheiro.
Dia de consulta. Coloquei o lenço azul, com uma blusinha azul clara e uma saia preta. Minha perna estava só osso e uma pele caída por cima dele, um horror. O calçado era uma rasteirinha rosa.  Eu passei batom, mas já não tinha lábios, apenas um risco como boca. Me perfumei com um cheiro maravilhoso de flores. Devia estar me preparando para o caixão…

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Marina- Capitulo 10

A todo momento eu passava mal. Já não estava mais aguentando o sofrimento. Eu sabia que meu corpo estava deteriorando rapidamente. Minha mãe foi até o mercado e comprou melancia, eu amo suco de melancia. Ela mesma preparou para mim, com um pouquinho de açúcar, mas eu não consegui beber, apenas um gole foi o suficiente para o tormento do enjoo atacar. Assim foi por um bom tempo. Ninguém podia me visitar. Se viessem tinham que usar máscara para não me contaminar. Era um tal de leucócitos que baixava rapidamente causando o risco de infecção e provavelmente a morte. Minha mãe tinha medo que eu viesse morrer, então ninguém entrava no meu quarto, a não ser ela, meu pai e a Bá.
Três semanas se passaram após começar o tratamento. Fui tomar banho e lavar meus cabelos. Eles eram na altura do ombro, castanhos escuros. O médico disse que poderia ter queda, mas a gente nunca está preparada para isso. Passei o shampoo e depois o creme, comecei a enxaguar e ele caía de punhados em minhas mãos. Saí rapidamente e sequei-os com a toalha. Com uma escova tentei ajeitá-lo, mas eles caíam cada vez mais. Me deu um desespero muito grande… me sentei ao lado do vaso sanitário e com o rosto no meu joelho chorei em voz alta.
Minha mãe ouviu meu choro e veio correndo para meu quarto, entrou no banheiro e me levantou. Me colocou em seus braços e me segurou com toda força. Ela não poderia tirar a dor do meu coração. Não sei se essa dor é por causa do câncer, da queda do cabelo, porque não sei se vou morrer, ou é a falta que sinto do meu Deus… A essa altura já estava conversando com ela.
Em dois meses eu estava completamente careca. Nem um fio de cabelo em minha cabeça. Bá comprou três lenços para mim. Um vermelho, outro cinza com bolinhas brancas e um azul escuro com uns riscos mais claros. Meu pai me deu um chapéu muito legal. Tinha várias cores, vermelho, rosa e branco. De vez em quando eu saía para passear.
Minha mãe insistiu muito e eu aceitei ir com ela para o shopping. Foi uma das piores coisas que eu já fiz em minha vida. As pessoas me olhavam como se eu fosse um E.T. ou pelo menos assim. Umas me olhavam com nojo, outras com pena. Entrei com minha mãe numa loja e a vendedora não conseguia nos atender sem ficar olhando para minha cabeça. Eu me irritei, fiz cara feia mas não adiantou. – Você está olhando o quê? Estou sim com câncer e posso morrer a qualquer momento, está feliz agora?
Minha mãe nem comprou mais nada. Pegou meu braço e me levou para fora da loja. Fomos para casa. Como se isso não bastasse, minha boca ficou cheia de feridas. Eu não conseguia comer nada, doía muito e toda hora sangrava… ( choro )
Fui ficando muito fraca. Já não conseguia andar muito tempo. Meu pai coitado, emprestou uma cadeira de rodas para poder andar comigo pela calçada. Eu colocava o chapéu que ele me deu, e pela manhã umas sete e meia da manhã, ele andava comigo empurrando a cadeira. Ele empurrava e cantava. A música me aliviava um pouco. Ele cantava louvores da igreja. Parece que acalmava meu espírito.
Eles iam para os cultos, eu ficava em casa com a Bá. Quando a Bá ia, eu ficava em casa com eles. Não sei porque mas não tinha coragem de ir novamente para a igreja. Acho que não cria mais em Deus ou de repente tinha vergonha Dele, não sei ao certo, só sei que não ia. Sei que Deus entende isso…
Fui emagrecendo dia a dia. Fiquei muito feia. Careca e a pele se enrugando por causa da magreza. Meu olhar era de uma morta viva. A fraqueza era cada vez maior. Eu já não conseguia mais ficar sentada. Os ossos do meu quadril estavam machucando a minha pele. Para andar na cadeira de rodas, meu pai comprou uma almofada muito macia, aquelas que a gente usa para dormir no carro ou no avião. Me aliviou um pouco, mesmo assim não conseguia ficar mais do que quinze minutos na rua, tinha que voltar para casa e me deitar. Perdi as forças… já não comia mais sozinha. Minha mãe dava o alimento em minha boca… quase não tinha forças para abri-la.

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Marina – Capitulo 9

Eu fiquei um dia e meio no hospital, a menina morreu algumas horas antes de eu receber alta. No momento de sua morte os demônios vieram buscar sua alma… eu vi ! É horrível ! Vi o desespero da sua alma ! Vi o desespero !
Antes da sua morte olhei para ela, estava na cama colocada em  frente a minha. Ela era muito magra, careca e com os olhos fundos e roxos. A pele parecia verde, eu conseguia contar os ossos dela. As mãos eram muito feias, lembrei de uma caveira. A boca dela estava com muitas feridas. Ela sentia fortíssimas dores, a enfermeira toda hora aplicava morfina na menina. A dor passava por um tempo e depois voltava.Ela queria chamar a mãe mas não dava mais tempo! Eles a levaram! Eles a levaram! Os demônios a levaram.
Minha mãe estava do meu lado e eu nem falava com ela. Queria tomar um banho, mas ainda não podia me mexer.
Olhei para ela e chorei, eu não podia falar nada, como poderia explicar tudo aquilo? Minha mãe me abraçou e me abençoou…
Fiquei com a expressão da menina morta em minha mente. Uma garota de uns 23 anos, pele e osso, o rosto muito enrugado, as mãos horrorosas. O gemido de dor, a boca toda cheia de feridas e o desespero por estar sendo levada pelos demônios… A mãe chorando em cima do corpo da filha morta… será que minha mãe vai estar no lugar dessa mãe daqui alguns dias? Será que eu vou acabar assim?
Colocaram um lençol branco em cima dela e a levaram para o necrotério. Alguém ia fazer a tal autópsia. Acho que nem precisava, o câncer comeu o corpo todo dela, era só escrever isso.
Meu médico chegou e me deu um sorriso, disse que correu tudo bem na cirurgia, mas que eu deveria começar uma quimioterapia. Assinou um papel e me deu alta.
Meu pai foi nos buscar, eu e minha mãe. Com muita calma desci da cama, minha mãe trouxe um vestidinho bem solto para eu usar, um chinelo de borracha bem leve. Penteou o meu cabelo e fez um rabo de cavalo. Ela segurou no meu braço direito para que eu não caísse. Meu pai levou a sacola com minhas outras roupas.
Entrei no carro, fui na frente, minha mãe sentou-se atrás. No caminho meu pai fazia algumas brincadeiras para ver se eu me alegrava, mas não consegui esboçar nenhum sorriso. Fiquei olhando a paisagem e sentindo a dor na minha alma. Porque será que fiquei desse jeito?
Chegando em casa fui para meu quarto. Minha cama estava arrumada, com dois travesseiros grandes e muito gostosos, um edredom macio e aconchegante. Me deitei, minha mãe ajeitou minhas costas no colchão. A Bá, era uma ajudante que estava conosco desde que eu tinha cinco anos de idade. Ela fez uma sopa de mandioquinha para mim. Bateu no liquidificador e não colocou muito sal. Bá veio pessoalmente colocar a sopa em minha boca. Ela é muito engraçada, fazia aviãozinho para eu comer. Eu ria com isso. Estava sendo tratada como rainha por eles, mas dentro de mim havia um vazio imenso. Não sei o que era, nunca senti isso antes. Um abismo estava dentro do meu peito. Uma vontade de morrer mas ao mesmo tempo não sabia para onde minha alma iria. Mesmo eu tendo aprontado todas, minha mãe me amava, mas será que Deus me amava? Será que Ele se lembrava de mim? Essa dúvida estava dentro do meu coração o tempo todo. Uma voz dizia que eu não tinha mais salvação, que eu estava perdida em meus pecados, que eu não era digna da misericórdia Dele e que não adiantava orar, porque Ele não iria me ouvir… desespero….
Minha mãe chegou perto de mim e passou a mão em minha tatuagem, olhou para ela por alguns segundos. Pensei que iria me dar uma bronca, mas não… balançou a cabeça em sinal negativo e esboçou um sorriso. Não entendi.
Na semana seguinte comecei a químio. Uma sala com um aparelho estranho, um saquinho de soro com os remédios. Começou o tratamento… minha boca ficou seca, parecia que ia rachar. Senti um desconforto insuportável. Uma sensação horrorosa, nem conseguia falar, eu poderia beber toda água do mundo que a secura em minha boca não passava. Tive muita náusea, quando eu saí me receitaram outro remédio para tomar caso o enjoo continuasse. Meu pai passou na farmácia para comprar, eu não queria ficar no carro queria ir embora, estava muito mal, me sentia péssima.
Quando cheguei em casa não resisti e vomitei muito…muito mesmo… meu estomago doía, minhas costas também, não aguentava mais fazer força de tanto vomitar. Uma sensação de morte, quero minha cura! Pelo amor de Deus quero minha cura!.
Dois dias passando horrivelmente mal. Minha mãe ao meu lado sofrendo junto. Voltei a falar com ela. Bá fazia sucos, eu não conseguia tomar, não tinha fome.
Meu pai ligou para o médico e ele disse que era assim mesmo. Pediu para eu comer em pouca quantidade mas várias vezes durante o dia. A comida não descia em minha garganta. Tinha nojo dela. Nem água me sentia bem em beber, comecei a morrer vagarosamente…

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Marina – Capítulo 8

Acordei com o telefone tocando. Era meu médico pedindo para ir até o hospital. No dia seguinte fui . Novos exames foram realizados, muitas perguntas foram feitas. Minha mãe sempre do meu lado… e eu não falava com ela.
Felipe ligava de hora em hora.
A cirurgia foi marcada para dois dias depois. Tudo muito rápido…acho que eu estava morrendo…
Na sexta-feira lá estava eu de novo dentro do hospital. Agora para a grande cirurgia. Eu até que estava com esperanças.
Uma enfermeira loira veio até mim, deu um sorriso e pediu que eu tirasse toda roupa. Me deu um roupão branco com emblema do hospital. Fui até o banheiro e me arrumei.
Dois enfermeiros me fizeram deitar em uma maca com rodinhas, colocaram uma touca em minha cabeça e uma agulha em meu braço, já me preparando para a anestesia.
Na sala tinha muitas luzes, muitos aparelhos. Meus olhos estavam doendo, o medo tomou conta do meu ser. Pra onde minha alma iria? Eu não estava preparada para morrer. Será que Deus podia ouvir a minha voz? Será que Ele se lembrava de mim? Ou nem me conhecia mais… sentia uma mistura de medo com revolta.
O anestesista chegou, estava com um touca verde e uma máscara, nem vi o rosto dele.
Muita gente na sala… meu médico mesmo não estava lá. Minha mãe ficou do lado de fora, não deixaram ela entrar. Eu estava sozinha…somente eu e meus pensamentos… acho que nem Deus estava comigo, mas eu sentia a presença dos demônios, eles estavam bem perto e queriam me devorar, só estavam esperando o momento, estava com medo de morrer, muito medo de morrer…
Um líquido foi colocado por aquela agulha que estava em meu braço. Senti ele subindo em minhas veias…o medo aumentava cada vez mais…meu coração disparou. As luzes começaram a escurecer, o sono veio e não consegui mais segurar…adormeci…

Sete horas se passaram e eu acordei. Eles estavam fechando a cirurgia com pontos. Senti o médico me costurando. Ponto a ponto. A anestesia havia acabado e eu acordei antes do tempo. Um alívio…estava viva. Ouvi pessoas conversando, minha mente não estava conseguindo discernir as palavras. Eu ainda estava sob efeito dos remédios, mas os demônios continuavam ali… do meu lado. Vi um como vulto preto, cheiro de podre, calor…meu coração novamente disparou. O desespero tomou conta de mim. Não conseguia falar, não conseguia gritar, meu corpo ainda não respondia, só meu coração disparava…
Um tempo depois me levaram para um quarto. Sete demônios ao redor da minha cama, eu os contei. Ainda não conseguia me mover, fiquei assim por umas quatro horas. Apenas soro era meu alimento. Eu ficava olhando o teto do quarto. Tinha algumas rachaduras, as lâmpadas eram grandes e bem claras. Uma delas estava queimada, tinha oito ao total mas somente sete estavam acessas. Eu sentia frio, uma das janelas estava aberta. Fiquei em um quarto junto com outra menina, também vítima do câncer. Ela já estava na segunda cirurgia, o mesmo caso que o meu, câncer no intestino. Eu não estava vendo ela, porque não conseguia me mexer mas sabia que estava sentindo dores. Ela gemia o tempo todo, e dizia que não aguentava mais.
Ela xingava muito, falava palavrões e estava revoltada. Vi outros demônios ao seu redor, eles riam muito e parecia que estavam esperando por sua alma. A mãe dela estava perto, sofrendo junto.
Minha mãe chegou e me deu um beijo. Passou as mãos pelos meus cabelos. Quando ela chegou perto de mim, senti paz… eles saíram, foram embora. Ela viu que eu estava com frio e fechou a janela. Tinha um cobertor aos meus pés, ela me cobriu. Consegui me aquecer.
A noite foi longa. Toda hora tinha uma enfermeira me aplicando remédio. Eu achava bom porque assim não iria sentir dor, mas ficava com a cabeça pesada e parecia que tinha um zum zum no meu ouvido, eu me sentia dopada o tempo todo, meus olhos não conseguiam fixar em nada, eu não tinha controle sob o meu corpo. O desespero começou tomar conta de mim, queria ir para casa, queria estar bem, queria somente queria, mas eu não podia… comecei a chorar, as lágrimas caíam no travesseiro e nem limpar meu rosto eu tive condições…que ponto cheguei…

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Marina – Capítulo 7



Fui para meu quarto e lá estava uma camiseta em cima da minha cama.
Voltei para a cozinha e gritei com minha mãe.
- Você pensa que sou boba? Acha que não sei o que essa camiseta está fazendo na minha cama? Eu não vou vesti-la, nem por bem e nem por mal.
Em um ataque de fúria joguei-a no lixo.
Novamente minha mãe não abriu a boca. Isso me deixava louca, eu queria brigar com ela, mas em nenhum momento tive chance…
Quinze dias se passaram, eu e Felipe nos entendíamos muito bem, exceto em uma coisa. Várias vezes ele queria avançar o sinal, mas eu ainda não estava pronta. Ele dizia que iria terminar comigo, porque eu não dava provas do meu amor, mas ele não entendia que eu deveria estar preparada para aquele momento. Não queria que fosse de qualquer forma, queria algo especial, algo que de fato me fizesse sonhar para sempre. Eu amava meu namorado, mas ainda não estava pronta. Faltava pouco tempo para nosso casamento. Já era para ter me casado, mas como não queria mais casar na igreja, optamos por uma chácara. Por esse motivo tivemos que esperar mais um mês, porque estava ocupada. Eu amava o Felipe e queria muito viver para o resto da minha vida com ele.
Naquela semana fui apresentada a cocaína. Tato era viciado e me trouxe um pouco. Ele fez uma carreira na mesa da sala de sua casa e com um cartão de crédito acertou os lados. Ele enrolou um pedaço de papel e colocou entre suas narinas e a coca, aspirou, fez cara de quem iria espirrar e sorriu.
- Agora você.
Pensei por um instante se valeria a pena arriscar, eu não tinha nada a perder. Peguei o papel, enrolei, coloquei em meu nariz e aspirei o pó… nem me preocupei se o Felipe iria ficar bravo comigo, eu já era maior de idade.
Que sensação… nunca havia sentido aquilo…
- Quero mais !
Ele deixou eu cheirar novamente. Meu coração disparou, fiquei eufórica, a sensação de bem estar… eu estava ótima… me sentindo a tal!
Me sentei no sofá e fiquei olhando para o nada da parede branca. Vi monstros subindo e descendo. Eles olhavam para mim e davam gargalhadas. Eram monstros horrorosos. Tive medo…
Tato disse que se eu quisesse mais teria que comprar. Pensei que não seria necessário, mas durante a noite senti vontade, meu corpo pedia aquela sensação.
3:20 da manhã, não aguentava mais. Liguei para o Tato.
- Pelo amor de Deus consegue mais para mim.
- Preciso de dinheiro vivo.
– Minha mãe não vai me dar, empresta para mim depois eu te pago. Estou sem nada agora.
- Você não trabalha?
- Deixei de ir para a loja já tem um tempinho. Acho que já estou demitida de lá. Me empresta, eu devolvo. Assim que eles depositarem na minha conta eu te devolvo…
- O que você tem para me dar em troca?
Olhei para meu quarto e vi o som. Sem pensar o ofereci.
- Esse som é bom?
-Sim Tato ele é novinho, eu comprei faz dois meses.
- Espera na porta que eu levo a encomenda.
Ele chegou em quarenta minutos. Fiz a troca na porta de minha casa. Subi as escadas muito rápido. Abri o sacolé e despejei o pó na escrivaninha. Com um cartão arrumei a carreira. Fiz um rolinho de papel e aspirei… que sensação maravilhosa! Como eu não conheci isso antes… sei que quando quiser eu paro, tenho controle sobre mim…
Apaguei a luz do meu quarto e sentei no chão… demônios apareceram para mim. Muitos demônios. Eles me rodearam e me fizeram medo. Havia o cheiro de podre no ar. Fechei os olhos…senti eles me tocando. Ficaram batendo na minha perna. Eu dizia para parar, mas eles não paravam. Quando abri os olhos não vi ninguém.
Deitei em minha cama, cobri minha cabeça com o lençol. Comecei a suar, meu coração disparou… um deles disse bem perto do meu ouvido que voltaria para me buscar… não dormi naquela noite…
Resolvi falar com o Felipe, perguntei se essa sensação era real ou era coisa da minha cabeça. Ele disse que cada um tem um tipo de reação. Ele ficou surpreso em me ver usando, mas não questionou.
Perguntei se ele já usou isso antes de ser obreiro.
Ele me respondeu rindo:
- Antes de te conhecer eu nunca havia ido na igreja, só falei aquilo porque queria você. Sei que é a mulher da minha vida e não posso te perder.
Desfaleci naquele momento. Fiquei pálida e sem chão. Felipe havia mentido para mim. Foi como se uma faca tivesse sido enfiada dentro do meu peito. Pedi para me levar para casa. Entrei no meu quarto e chorei a noite toda.
Em dois meses eu fiz o que nunca fiz em minha vida toda. De tudo fiz um pouco, faltou apenas me prostituir, mas isso não aconteceu porque não estava preparada para o momento, porque se estivesse com certeza teria me entregado para Felipe.

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Marina – Capítulo 6

No outro dia minha cabeça doía muito. Me levantei por volta das 14:00 horas, minha mãe não estava em casa, estava na igreja evangelizando. Esse era o horário que eu sempre saía para entregar jornais e falar de Jesus…
- Eu não consigo falar com Ele. Dá a impressão que não tenho mais perdão, que para mim não tem mais jeito.
Fui até o armário e peguei um analgésico para minha terrível dor de cabeça. Vi vários tipos de remédios tive vontade de tomar todos. Senti um desejo enorme de me matar…
Uma voz dizia muito sutil no meu ouvido que eu não tinha mais salvação, se eu me matasse aquela angustia sairia e eu seria feliz. Minha dor iria acabar no exato momento que eu morresse…
Peguei uma cartela de remédio para emagrecer que já estava lá no armário há muito tempo, uns dez comprimidos para dor de cabeça e água sanitária. Com uma colher despedacei um a um, até vivarem pó. Misturei todos eles em um copo e adicionei água sanitária. Sentei na janela do meu quarto que dava de frente para um canteiro muito lindo com flores do campo que minha mãe pediu para o jardineiro plantar. Fiquei com aquele copo nas minhas mãos… a cada segundo a voz falava mais alto para eu beber pois minha vida seria outra, meus problemas acabariam, mas eu tinha medo, muito medo… nem sei de que eu tinha medo, mas estava completamente aterrorizada com aquela situação.
Meu coração estava tomado pelo ódio, a mágoa de Deus era muito grande. Como Ele pode fazer isso comigo? O que eu fiz para me crucificar dessa forma?
Andei de um lado para o outro do meu quarto e estava decidida a beber o veneno quando o telefone tocou. Levei um susto tão grande que o copo se despedaçou no chão… Era Felipe, disse que queria que eu conhecesse alguém.
Muito bem, pedi que entrasse. Na sala de casa ele me apresentou alguns colegas. Pessoas estranhas porém muito legais. Ana, Paula, Nenê, Tato, Carol e Bia. Fizemos pipoca e assistimos um filme. Eles haviam passado em uma locadora e o alugaram. O vazio continuava dentro de mim, mas a presença deles me fazia rir um pouco.
- Tem cerveja? Me perguntou Felipe.
-Não.
- Eu disse que aqui não tem isso. O povo é muito careta.
- Marina você tem que aprender viver. A vida que você leva é muito chata. Depois do filme vou te mostrar algo muito manero.
- Paula , eu gostaria de ficar em casa, estou cansada.
Todos deram gargalhadas e Felipe disse que era para eu ir senão eu seria a namorada mais chata que ele já teve.
Eu não queria ser a namorada chata do Felipe, então subi para meu quarto e me arrumei.
Ana subiu depois e quando me viu com uma calça jeans e uma camiseta rosa com flores disse que eu não sabia me vestir. Abriu meu armário e tirou um calça de sarja branca. Perguntou onde tinha uma tesoura e a cortou, fez uma dobra na barra para não precisar costurar. Sim ela cortou minha calça nova de sarja e fez um shorts curto. Eu nunca havia saído com shorts, mas quando o coloquei me senti bem. Parecia que aquele era o meu mundo agora. Pegamos então uma regata ( que eu costumava usar por baixo de outras blusas), um tamanco de salto alto e muitas bijuterias. Ela fez um rabo de cavalo em meus cabelos castanhos escuros, pintou meus olhos de preto e me fez olhar no espelho.
- Incrível ! Estou muito bonita ! Amei a produção. De agora em diante vou me vestir assim.
Quando desci as escadas, Felipe ficou maravilhado.
- Uau!!! Que gata !!! Essa é a Marina que eu gosto.
Senti uma mistura de remorso com desejo de conhecer esse mundo novo.
Nessa tarde fomos para um shopping. Assistimos outro filme e depois entramos em uma lanchonete. Tinha música ao vivo e muita bebida. Eu não queria sentir dores de cabeça novamente, por isso disse que não iria beber nada de álcool, queria apenas um suco.
Novamente muitas gargalhadas… fiquei tão constrangida que pedi a mesma coisa que todos, cerveja, muita cerveja…
Eu não sabia mas Felipe fumava. O cheiro da fumaça do seu cigarro e de todos ali em volta me fez tossir muito, eu ficava sem ar a todo momento… eu nunca vi meu pai fumar, em minha casa nunca entrou cigarro ou bebidas alcoólicas…
Uma semana se passou e eu não me reconhecia mais, nem por um momento me lembrava que um dia fora de Deus.
Deixei de falar com minha mãe, estava muito revoltada com tudo e não queria amizade de ninguém daquela casa, apenas dos meus amigos.
Abri meu email e vi a foto linda de uma rosa amarela. Felipe estava me convidando para sair, eu só não entendi o que tinha haver com a rosa.
- Quero te apresentar ao maior desenhista que já conheci.
- Você tem amigo desenhista? Que tipo de desenho ele faz?
- Você vai amar !!!
Felipe me levou com seu carro até uma loja muito colorida. Era a loja do Dudau. É um apelido esquisito, todos o conhecem assim, mas o seu verdadeiro nome é Claudemir. Ele é um excelente tatuador.
- O que estamos fazendo aqui?
- Vou fazer uma tatoo, queria que me acompanhasse.
- Tudo bem, fico aqui ao seu lado.
- Você não entendeu… quero que faça uma rosa amarela em seu pulso, vai ficar lindo…
- Eu? Nunca pensei em fazer isso…mas confesso que estou tentada em colorir meu corpo.
Pensei um pouco, olhei outros desenhos, fiquei indecisa por um momento.
- Pronto, já decidi.
- E aí, qual vai ser?
- Quero a rosa amarela, vai ficar linda mesmo…
Naquela tarde eu apareci em casa de shorts, camiseta decotada, maquiagem escura e tatoo. Minha mãe quase enfartou, percebi isso no seu olhar, porém nenhuma palavra saiu de sua boca…

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Marina – Capítulo 5



- Infelizmente sim, você deverá começar a quimioterapia, mas antes vamos fazer mais alguns exames para realizar uma cirurgia que é
o tratamento primário para o câncer de intestino, retirando a parte afetada. Após a cirurgia, a quimioterapia é utilizada para diminuir a possibilidade da volta do tumor. Quando a doença já está espalhada pelo corpo ( fígado, pulmão ou outros órgãos), novos medicamentos impedem a progressão do tumor e possibilitam aos pacientes viver por mais tempo, com qualidade de vida. Felizmente você está no início da doença por isso as chances são grandes de recuperação.
- Que qualidade de vida uma pessoa com câncer pode ter?
Eu sempre fui muito usada por Deus e agora estou nessa situação. Liguei para minha mãe assim que saí da sala do médico. Chorei muito no saguão do hospital. Não tinha condições de dirigir. Minha mãe, coitada, veio de taxi e me acompanhou até em casa.
Fui para meu quarto e fechei a porta, ali eu chorei copiosamente porque não queria morrer. Não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo.
Minha mãe ligou para o Felipe, que de imediato veio para minha casa.
Eu ainda estava no quarto quando ele entrou, sentou-se em minha cama junto com minha mãe e me abraçou. Continuei a chorar. Eu não tinha fé para ser curada. Não sei o que aconteceu comigo. Deixei de acreditar em Deus e nem sei quando isso aconteceu. Meu mundo desmoronou, minha mente ficou vazia, não sentia mais o meu corpo. Um sentimento de revolta e ódio tomou conta do meu ser. Como Deus poderia deixar isso acontecer comigo sendo que sempre fiz a Obra Dele?

Felipe ficou revoltado. A todo momento me perguntava como Deus pode fazer isso comigo, afinal eu era fiel a Ele!
Eu já estava com meu coração tomado pelo ódio. Felipe me disse:
-       Vou te ensinar a viver…
-       Como assim? Eu vou morrer…
-       Não vai não ! Eu prometo. Você vai conhecer o outro lado do mundo. O meu mundo, aquele que eu vivo e conheço, sei que vai gostar muito.
Naquela noite ele me levou para conhecer uma balada. Foi massa! Eu amei. Muitas luzes, achei super legal. Nunca tinha bebido nada de álcool… nessa noite eu bebi, achei muito, muito 10! Por alguns minutos eu esqueci que iria morrer.
As luzes da danceteria estavam apagadas, apenas os refletores com luzes azuis e vermelhas estavam reluzindo em direção ao centro do salão. A música era eletrônica e muitíssimo alta. Pedi ao barman um drink. Um copo alto com muito gelo, os copos dessa balada são bonitos, esse tinha detalhes, ficava mais fácil de segurá-lo, assim com a mão suada não haveria perigo de escorregar. Eu estava muito suada, dancei além da conta. Nem sabia dançar quando cheguei, mas o Felipe me ensinou. O experiente barman começou a fazer sua demonstração, fiquei lá, bem pertinho vendo tudo.  Estava hipnotizada com ele, é simplesmente maravilhoso. Pegou uma garrafa com rótulo branco e começou a girar em volta de sua cabeça, fazia caras e bocas. Uma outra transparente, pinga em outra mão, fazendo as duas rodarem em volta de seu corpo. O mais impressionante é que nenhuma delas foi ao chão.
Deixou as duas garrafas em suas mãos e em uma altura de uns 50cm as deitou de forma que o líquido caísse no copo ordenadamente. Deixou encher até o meio do grande copo, puxou as garrafas tão rapidamente que não consegui ver a bebida parar de entrar no copo…impressionante sua habilidade. Eu estava amando aquele lugar. Queria voltar mais vezes, assim poderia beber e esquecer meus problemas. Felipe sabia viver…
Muito gelo foi colocado em outros dois copos, agora azuis, um se encaixava no outro. Ele fez uma graça sambando como se fosse possível ouvir o barulho das pedras batendo nas paredes do copo, com a altura da música era impossível, mas a sensação de saber que isso estava acontecendo ele conseguiu. Separou os copos azuis e adicionou uma bebida vermelha. Eu queria aprender dançar o samba naquela noite.
Felipe me deu um sorriso, retribui com outro, pois estava vivendo a vida agora. Já que vou morrer que eu morra feliz.
Sua apresentação continuou. Equilibrou uma garrafa pequena em seu braço direito, no esquerdo havia outro copo. As vezes eu olhava para ele, outras vezes prestava atenção no movimento. Muita gente estava dentro daquele local pequeno. O cheiro do cigarro me deu um pouco de enjoo, mas logo me acostumei. Felipe pegou o drink para mim, sentamos em um sofá perto da porta. Ele me beijou como nunca antes. Eu estava apaixonada e querendo curtir a vida. Felipe estava me ensinando. Nem me preocupei com o que minha mãe iria falar, sua opinião já não me importava.
Fui até o banheiro, vi uma menina cheirando cocaína. Na hora tive vontade de experimentar, mas tive a sensação de que alguém estava me olhando. Senti medo, parecia que muitos olhares estavam sobre mim. Me olhei no espelho, minha maquiagem estava borrada. Uma garota de minissaia me ofereceu batom. Vermelho sangue, sim o batom era vermelho sangue. Agradeci e aceitei. Quando usei-o em minha boca, não me reconheci. Senti um vazio tão grande dentro de mim que parecia com um abismo sem fim. Tive a impressão de que Deus estava me olhando… parecia que Ele estava pesando seu olhar sobre minha cabeça. Fiquei mais revoltada ainda. Corri para o centro do salão e diante daquela música terrivelmente alta eu gritei:
- Não tenho medo de você! Eu não acredito em você! Eu te servi e agora tenho câncer! Não preciso de você em minha vida!
Felipe chegou perto de mim, me abraçou e dançamos a noite toda. Eu já estava muito bêbada quando voltei para casa…

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Marina – Capítulo 4

23/04/2012
Dois meses antes do meu casamento fiz os exames pré nupcial, já era para ter feito , mas não tive tempo, Deus sabia disso, eu trabalhava muito. Deus sabe de tudo e entende… ( era que eu achava)
Aparentemente eu estava bem, sentia algumas dores abdominais mas isso era porque não estava me alimentando no horário correto. Deveria ser gases como dizia minha avó, meu intestino era preso e eu sofria com isso.
Fui até o hospital e esperei o horário da minha consulta, seria muito rápido, era apenas para a doutora ler os meus exames. Fiquei ali, sentada perto da recepção. O hospital era particular, muita gente passando de um lado para o outro. Tinha um aparelho de televisão bem na minha frente, passava o noticiário. Uma senhora com a criança chorando o tempo todo do meu lado, um jovem com a perna quebrada esperando atendimento do seu retorno, sim porque o gesso estava todo escrito e com desenhos, então deveria ser o dia de tirá-lo. Havia uma mulher grávida, estava bem, poderia ser apenas o pré-natal. Não era hora de visitas, então as pessoas que estavam no local era para serem atendidas. Tinha um bebedouro perto da porta de entrada, eu estava com sede, caminhei calmamente até ele e me saciei.
Uma placa com sinal de proibido fumar perto da segunda porta de entrada, e outra com uma enfermeira fazendo sinal de silêncio. O chão cinza claro estava limpo, a faxineira acabara de passar com um enorme aparelho limpando. O cheiro de éter estava forte, me senti mal.  As paredes eram verde erva doce, dizem que essa cor acalma as pessoas. Do lado de fora da grande janela, tinha um jardim com plantas grandes e verdes, um senhor fazia o serviço de jardinagem, mexia com tanto carinho nas plantas e as podava, dava a impressão que conversava e conhecia cada uma. As folhas estavam vistosas e brilhantes, quando ele jogou água com uma mangueira grande dava a sensação de estar vendo o arco íris.
Vi um pai segurando sua filha, ela estava com febre, o rostinho todo vermelho. Dormia segura no colo dele. Nesse momento minha médica me chamou na sala para conversarmos. Caminhei calmamente até ela. Me pediu para sentar. Fez muitas perguntas e eu não estava entendendo nada.
- Minha querida quero repetir os exames para não diagnosticar erroneamente.
- Tem algo de errado comigo doutora?
- No seu exame consta uma anomalia que quero verificar.
Ela não me deu mais detalhes, apenas repeti todos os exames. Ficaria pronto em três dias.
Minha mãe também achou estranho, disse para eu ir até a igreja e pedir oração.
- Mãe eu não preciso de ninguém orando por mim, tenho fé, sei que Deus é grande e pode mudar qualquer situação, eu O conheço ! Sei que não tenho nada, além disso tenho que descansar um pouco.
- Marina, minha querida, o nosso coração é enganoso. Não podemos deixar o mal se alimentar e se fortalecer das emoções que ele nos oferece. Se você tem mágoa, rancor, tristezas, malícia dentro do coração, então o mal senta e se apodera de você, pois está dando para ele a fonte de energia. Da mesma forma é com Deus, quando agimos pela razão, fé. Não damos brechas para sermos enganadas.
- Mãe, eu sei bem quem sou, não preciso de orientações.
Saí com muita raiva daquela situação.
O dia do retorno chegou e a doutora Deise olhou novamente os papeis e os examinou cuidadosamente. Respirou fundo e fez uma ligação. Pediu para que eu esperasse no lado de fora.
Já estava ficando impaciente com aquilo, era só me falar o resultado e eu iria embora, tinha as lojas para gerenciar. Era quarta-feira porém como eu estava cansada não iria na minha igreja, precisava descansar, Deus entende…
Ela me chamou de novo em sua sala, sentou-se ao meu lado e segurou a minha mão.
Comecei a ficar preocupada, o seu olhar não era bom.
- Marina minha querida, vou encaminhá-la ao melhor médico que conheço, é meu amigo e sei que ele irá te ajudar.
- Por que?
- Ele irá te explicar melhor. Vamos até lá.
A doutora Deise me levou até sala ao lado e me apresentou ao doutor Tadeu. Um senhor que usava óculos e bigode, estava com um avental branco e era muito calmo no falar. Ele sorriu para mim e pediu que me sentasse. Doutora Deise me deu um beijo e saiu.
Meu coração ficou gelado porque estava tudo estranho, as pessoas estavam estranhas comigo, não estava entendendo nada. Comecei a suar.
- Marina, estou com seus exames nas mãos e a doutora Deise, minha amiga, pediu que de agora em diante te acompanhasse. Você tem plano de saúde e ele cobre todas as despesas.
- Doutor Tadeu, por favor deixe de rodeios e comece a falar o que eu tenho. Não estou entendendo nada.
- Seus exames deram alteração nas células. Isso significa que você está com câncer no intestino, por isso tem dores abdominais tão fortes. Sua perda de peso também é significante.
Fiquei sem fala…
Ele me deu um copo de água…
Me lembrei de uma senhora que uma vez chegou na igreja com câncer, eu orei nela e ela foi curada. Naquele momento eu usei a fé e ela colocou aquela bola de pus para fora. Tinha um cheiro muito forte…  Me lembrei também de um jovem que estava com a mesma doença, mas ele morreu…
- Doutor, tem certeza disso?

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Marina – Capítulo 3

16/04/2012
Um dia encontrei com aquele homem no centro da cidade, sem pensar passei para o outro lado da calçada. Não queria cumprimenta-lo. Não queria ve-lo, não queria ouvir sua voz, não queria ele perto de mim.
Insisti no namoro e começamos então uma relação séria. Felipe era muito atencioso e cuidadoso comigo.
Comecei a trabalhar para comprar meus móveis para o casamento. Consegui um emprego em uma loja conceituada de sapatos. Eu era a melhor vendedora da loja, como sempre. Em tudo o que eu fazia Deus me abençoava… eu era Dele. A dona da loja me observou e me colocou como gerente, disse que com meu empenho poderia cuidar das outras meninas. Ela nunca viu alguém trabalhar tão bem como eu trabalhava, e seguindo assim poderia cuidar das outras lojas dela quando não estivesse no Brasil. Sim porque ela viajava muito. Era uma mulher muito influente e culta. Trazia novidades lindíssimas para a loja. Tinha cada bolsa maravilhosa que combinava com o cinto e com o sapato. As vezes eu queria comprar tudo. Sempre fui muito econômica e consciente dos meus gastos, mas nesse mês gastei o que não devia. Até minha mãe achou estranho, porque eu nunca ligava para marcas e nem para coisas que combinavam. Eu gostava mesmo era de evangelizar ,de cuidar do povo. Mas sabe como é …Deus sabe que eu tenho que trabalhar e andar muito bem arrumada.
Comecei a trabalhar aos domingos pela manhã. Cuidava de duas lojas no shopping. O trabalho era tanto que mal dava tempo de almoçar. Assim sendo deixei de jejuar, Deus também sabia que eu tinha que me alimentar para ficar forte no trabalho. Imaginem uma gerente bem conceituada como eu desmaiar de fome no meio da loja…não ficaria bem. Comecei assistir as reuniões do domingo a noite.
Sete meses se passaram, e me sentia triste. Eu não sabia o motivo, mas meu coração estava triste. As coisas do meu casamento estavam prontas, meu vestido era lindo. Foi feito um vestido desenhado por uma estilista amiga minha. Tinha muitas pedrarias. Duas saias de tafetá branco com detalhes em dourado. O véu da cabeça era de quatro metros.  Quis aquele que cobre o rosto. Meu buque era de orquídeas brancas, simplesmente maravilhoso. Comprei um sapato baixo, queria conforto.
No dia da ultima prova do vestido, fui de carro. Eu havia comprado um carro, estava ganhando muito bem. No caminho fiquei ouvindo musicas bem agitadas, parece que me acalmava, eu andava meio nervosa. Deveria ser por causa dos preparativos da festa.
Cheguei na loja e a vendedora me levou direto para a costureira dar os últimos ajustes. Sozinha no provador eu chorei. Não sei porque mas chorei.  Uma dor na minha alma, não consiguia explicar. Sempre fui fiel a Deus, temente a Ele, nunca havia sentido essa dor dentro do meu peito. Não estava entendendo nada, era o dia mais feliz da minha vida e estava triste. ( antigamente o dia mais feliz da minha vida foi quando recebi o Espírito de Deus…)
A costureira fez o ajuste final. Estava tudo pronto. Eu me casaria dentre quatro semanas. Passei na floricultura para ver o restante da decoração. Comprei tudo branco e rosa. Pedi para ser colocado luzes no corredor ao lado do tapete vermelho que seria coberto por pétalas de rosas. Um violinista iria fazer minha entrada com a musica do titanic, era minha musica preferida. Fiquei perto de um ramalhete lindo de flores, me abaixei para sentir o seu perfume, passei as mãos em outras flores, tinha um toque de veludo. Um aperto na minha alma, vontade de chorar, angustia, não queria ver ninguém, não queria falar com ninguém.
Felipe me ligou, estava me esperando no restaurante. Havíamos combinado de almoçar juntos naquele dia. Me despedi da florista e fui até ele. Era um lugar bem aconchegante, bonito. Como de costume pedi o meu risoto de frutos do mar, ele a carne grelhada com salada. Sempre a mesma coisa. Tomamos suco de caju bem geladinho.
Felipe segurou a minha mão e disse que me amava. Minha voz embargou na hora, eu não consegui dizer o mesmo. Olhei para ele e não senti a mesma coisa que sentia ontem. Parece que estava em dúvidas em relação a minha vida sentimental. Será que não amo mais ele? Será que é correto me casar? Porque sinto um vazio dentro do meu peito? Mas eu sabia que era  Felipe o homem da minha vida. Ele era muito carinhoso e perfeito para mim. Eu estava com uma faca em meu coração e não sabia o motivo.
Comemos a comida e voltei para o trabalho. Nesse dia arrebentei de tanto vender. Tirei o que nunca havia tirado. Em um dia de trabalho vendi o relativo a duas semanas de vendas. Eu era a maior vendedora daquela empresa. A dona me deu uma comissão muito grande. Paguei a festa do meu casamento e ainda sobrou troco para comprar uma bolsa de marca.
Fui para casa, entrei direto no meu quarto, pequei um urso de pelúcia que sempre fica em cima da minha cama e o abracei. Chorei muito. Meus olhos não conseguiam abrir de tão inchados que ficaram. Nem mesmo eu sei porque chorei tanto. Não tinha problemas, eu ganhava muito bem. Minha casa estava pronta, meus móveis todos pagos, minha festa… tudo estava em ordem, mas algo no meu coração duvidava, ardia, tinha alguma coisa dentro de mim que eu não sabia o que era.
Fui até a igreja e trabalhei na reunião. Não saiu virtude de dentro de mim, ninguém me procurou para orientação. Antes, fazia fila para eu atender. Voltei para casa, vazia e angustiada.

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Marina – Capítulo 2

09/04/2012


Um ano se passou e percebi que ele estava firme nas reuniões, parecia muito mais fortalecido, percebi também que algo diferente estava acontecendo conosco. Acho que eu estava gostando dele e ele de mim.
Relutei com isso e não quis dar trela para esse sentimento, achava que era muito nova ainda para pensar em me casar. Primeiro a faculdade, depois o casamento.
Fomos a uma reunião de jovens, foi muito bacana e proveitosa. Muitas musicas legais, até remix de outras musicas foi feito. Eu achei o máximo. Depois fomos ao shopping com um grupo de amigos tomar um sorvete. Estava passando um filme que eu queria muito ver. Quatro dos nossos amigos quiseram assistir, três deles não. Então nos dividimos. Felipe como sempre a simpatia em pessoa, comprou os ingressos para mim e para ele. Eu quis pipoca com guaraná. Um chocolate de quebra e gomas de mascar. Quando a gente vai para o cinema tem que entrar com tudo de comer. É muito mais gostoso. Já percebeu que a pipoca do cinema tem cheiro e gosto diferente daquelas que a gente faz em casa? Eu também acho. O filme era comédia romântica. No inicio a gente riu muito. Como já disse estávamos em quatro. Dois deles sentaram na fileira da frente, Felipe me puxou para a fileira de trás. Antes de começar o filme ficamos rindo da minha sandália de borracha que reluzia no escuro, era do tipo neon… cor abóbora…
Muito bem, o filme começou. Eu já havia comido o chocolate, bebido o guaraná e estava na metade do pacote combo da pipoca, quando aconteceu o inesperado para mim. Felipe pegou meu rosto e me deu um beijo. Disse bem baixinho no meu ouvido…”estou apaixonado por você… eu te amo mais que tudo, você é a mulher da minha vida, casa comigo”.
Meu coração disparou, meu rosto pegou fogo, minhas mãos suaram, fiquei sem chão, minhas pernas sumiram de mim, eu não sentia mais elas, porém eu gostei do beijo. De imediato não quis continuar…mas gostei do beijo…
E agora? Como vou contar para meu pastor que fui beijada?
Bom ele não precisa saber, afinal eu sou maior de idade e estou bem com Deus. Ele vai entender. Peço perdão em casa e recomeço tudo de novo. Sem problema, foi só um beijo.
Falei com ele que para me namorar teria que falar com o meu pastor e com meus pais.
Claro que ele aceitou. Estava me amando… e eu a ele…
Um pequeno detalhe. Lembra no início do meu relato que eu disse que fazia votos para ter um homem de Deus ao meu lado? Eu acreditei que era ele. Acreditei mesmo!
No dia seguinte fomos falar com minha mãe. Ela não aceitou muito bem, mas como sempre fui muito responsável, ela deixou.
No domingo a noite Felipe procurou o meu pastor. Disse que gostaria de me namorar. O pastor da igreja disse que éramos livres, poderíamos fazer o que quiséssemos, porém não daria certo, aquele relacionamento não era de Deus. Disse que éramos muito diferentes um do outro e que nossos objetivos não eram os mesmos…
O quê?
Porque não daria certo? O que tem de errado eu ficar com Felipe? Fiquei revoltada com aquilo. Sempre fui uma pessoa idônea e correta com Deus, porque eu não poderia ser feliz então? Eu não entendi nada!! Quero e vou namorar com ele sim! O que tem de errado com o Felipe? Ele está se firmando com Deus, eu sei, eu o conheço muito bem!
Aí começou a desgraça na minha vida… o diabo sutilmente entrou no meu coração… ( choro )
Eu fiquei muito chateada, afinal de contas sempre estava a disposição de tudo e agora que estou realmente querendo ser abençoada ele me diz que não é de Deus ! Quem ele pensa que é? Tudo bem que eu decido o que devo fazer. As pessoas apenas nos orientam.
Nem percebi, mas meu coração ficou machucado. Deixei de assistir as reuniões daquele homem e passei assistir de outro pastor. Eu não conseguia entender o que ele falava. Toda vez que eu olhava para ele lembrava de suas palavras,  que Deus tinha alguém especial preparado para mim, que tinha um plano para minha vida, que aquele não era o momento certo. Eu sabia qual era o momento certo e sabia também que era o Felipe! Pronto e acabou!

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Marina – Capítulo 1

26/03/2012
Entrei na igreja ainda criança, sempre frequentei a escolinha e era uma menina muito usada por Deus. Por tantas vezes na escola que eu frequentava ensinava a professora a respeito do Deus vivo e tantas foram as vezes que ela e outras crianças quiseram me dar o nome para oração.
Incrível como uma criança pode fazer Deus agir na vida das pessoas. Eu falava e todo mundo parava para ouvir. Sempre fui uma benção na vida da minha mãe. Ela sempre teve muito orgulho de mim.
Fui crescendo e minha vida com Deus também. Me tornei obreira. Me lembro como  fosse hoje o dia em que coloquei o meu primeiro uniforme. Minha mãe me ajudou a ajustar minha saia. Lustrou os meus sapatos e fez uma linda trança no meu cabelo. Fui para a igreja muito linda. O Espírito de Deus pairava sobre mim.
Minha primeira reunião de uniforme, foi tão lindo. Via nos olhos de minha mãe a alegria de sua filha estar servindo ao Seu Deus e agora também o meu Deus.
Minha mãe lutou muito por mim. Não tive pai, eles se separaram eu ainda era criança, depois quando tinha 1 ano ele veio a falecer. Bebia e cheirava drogas. Minha mãe foi liberta antes de eu nascer. Graças a Deus por isso. Ela é uma mulher temente a Deus. Se casou novamente quando eu tinha apenas 3 anos, por isso eu considero Mário como pai, chamo de pai, porque ele é um verdadeiro amigo para mim. Ele é convertido e os dois se dão muito bem.
O tempo foi passando e cada vez mais Deus me usava. Quantas pessoas eu trouxe para a igreja. Fazia caravanas para trazer os doentes, os coxos, os leprosos, as prostitutas, os homossexuais… minhas mãos curaram muita gente. Minha palavra dava animo às pessoas, porque Deus falava através de mim. Meu semblante era resplandecente. Sempre queria mais de Deus, pedia em minhas orações a porção dobrada do Espírito de Deus. Sei que eu pertencia à Ele e Ele era comigo.
Eu fazia faculdade de economia, estudava muito, nunca tive um relacionamento. Nunca namorei ninguém, eu queria um homem de Deus para me casar. Queria alguém temente a Deus, porque sabia que com o casamento não poderia brincar. Meus votos eram voltados para isso também, queria alguém preparado por Deus.
Um belo dia, entrei na internet para fazer meu trabalho de economia, eu tinha que entrega-lo na semana seguinte, como sempre fui uma ótima aluna queria adianta-lo. Fiquei durante horas procurando o que escrever naquela folha branca. Eu escrevia e apagava, escrevia e apagava, parece que nada vinha em minha mente. As pesquisas eram muito fracas, eu tinha que tirar uma ótima nota, afinal era a minha reputação no colégio. Eu era conhecida como a menina estudiosa, aquela que todo mundo quer sentar ao lado no dia de prova… para fazer uma colinha, ( risos ) mas sem demagogia eu sempre fui boa nos estudos. Deus estava comigo sempre.
Joguei então a pergunta na internet para ver as respostas. Sim aquela que a gente coloca uma pergunta e muita gente responde. Encontrei várias respostas e a melhor foi de um rapaz que também fazia economia na mesma faculdade que eu, estava dois anos a frente.
Ele foi muito bacana, estava online naquela hora e me respondeu rapidinho. Foi muito objetivo e me ajudou muito. Eu o agradeci e muito simpático disse que sempre que eu precisasse poderia falar com ele. Até me deu o seu endereço de e-mail.
Pensei então que poderia ser uma boa ideia, afinal ele parecia muito inteligente. Não faria mal ter um professor online de vez em quando.
Passou-se um mês e novamente lá estava eu com uma dúvida naquele bendito papel branco em cima da minha mesa. Uma caneta azul e outra vermelha e nada conseguia escrever. Parece que minha mente estava travada em relação a matéria. Lembrei-me do rapaz. Procurei em minha caixa de contatos o endereço dele. Digitei vagarosamente, algo me dizia para procurar o que escrever em outro lugar, afinal eu tinha que fazer o trabalho, mas poderia ver em outros sites. Achei que era o diabo falando no meu ouvido para não falar de Jesus para aquele rapaz.
Resolvi continuar e apertei enter. Pronto, a mensagem foi enviada. Parecia brincadeira, mas ele me respondeu 3 minutos depois. Fiquei impressionada com a rapidez dele. A mensagem dizia:
- Boa noite dona Marina, a senhora precisa dessa reportagem que fala sobre a economia nos EUA, irá lhe dar uma ideia sobre o que seu professor quer.
Meu Deus, que rapaz inteligente e muito simpático.
- Por favor, Sr. Felipe não precisa me chamar de senhora, tenho apenas 18 anos ( risos )
- Muito bem, então não precisa você também me chamar de senhor, porque eu tenho 21 anos.
A conversa foi rápida e ele me passou os dados alarmantes da economia brasileira e de como o governo deseja driblar a mídia para não assustar o povo.
Assim foi durante o ano todo, sempre que precisava escrevia para o Felipe e ele me ajudava. Durante oito meses ele sempre me dando aulas online sem cobrar nada.
Um dia resolvi convidá-lo para vir comigo na igreja. Disse que era obreira e serva de Deus. Ele como sempre muito simpático me falou que achava mesmo que eu deveria ser de  Deus por causa do meu comportamento diferente de outras meninas. Eu era uma pessoa no qual todo homem desejava casar. Uma mulher virtuosa.
Novamente fiquei impressionada, ele conhecia o que era mulher virtuosa. Continuando a conversa me falou que era ex obreiro da igreja e estava lutando para voltar. A oportunidade já estava as portas. É claro que ele demorou um pouco mas foi comigo para a nossa igreja em um domingo a noite.
Felipe é um rapaz muito educado, muito simpático e de uma inteligência incrível. Começou ir comigo toda semana, sempre aos domingos a noite. Eu continuei escrevendo para ele quando tinha dúvidas. Nossa amizade foi se fortalecendo, ele falava a mesma língua que eu nos estudos e por consequência eu queria ajuda-lo, queria que voltasse para Deus.

continuação...

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